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23 de agosto de 2015. Declaração de Irina Bokova, Diretora-Geral da Unesco. Importância do ensino da história do tráfico de escravos

24 ago 2015

Ao ensinar, comunicar e transmitir a história do comércio de escravos, o mundo pode reforçar os direitos e a dignidade das pessoas de ascendência africana e combater ao mesmo tempo todas as formas de racismo e discriminação.

Foi com estas palavras que Irina Bokova, Diretora-geral da UNESCO iniciou o seu discurso de comemoração do Dia Internacional para a Memória do Comércio de Escravos e a Abolição da Escravatura que decorreu no dia 23 de Agosto.

No mesmo dia deste ano, 23 de Agosto de 2015, teve início a Década Internacional dedicada às Pessoas de Ascendência Africana (2015-2024).

O crime de escravatura teceu malhas irreversíveis entre povos e continentes, e recorda a todos os Povos do mundo que os seus destinos estão vinculados, porque as suas histórias e identidades se forjaram em parte, através dos mares, muitas vezes, até, noutros continentes.

A história do comércio de escravos é a de uma luta e até de uma vitória da liberdade e dos direitos humanos, simbolizada pela revolta dos escravos em Santo Domingo na noite de 22 a 23 de Agosto de 1791.

Recorde-se que a Revolução Haitiana, encabeçada por Toussaint l’Ouverture durou de 1791 a 1804 e que coincidiu com a Revolução Francesa, marcada, muito sumariamente, pela Declaração dos Direitos do Cidadão de 1789, e pelo período do Terror, de 1792  a 1794, pelo tempo da Convenção, o Diretório, e o Consulado até ao Império de Napoleão. Nesta revolta os negros organizaram-se em forças armadas e enfrentaram os exércitos regulares francês e espanhol (1793), até à Declaração de Independência em 1804. Infelizmente ocorreram massacres de lado a lado dos beligerantes. Napoleão desistiu do controlo colonial sobre Haiti que se dividiu em dois Estados em 1807, a República do Haiti, na parte Norte e o Reino do Haiti na parte Sul.

Esta Revolução foi determinante no movimento abolicionista da Escravatura, tanto pelo reconhecimento do sofrimento dos negros quanto, numa dimensão de realpolitik, pelo reconhecimento da parte dos Estados, da insustentabilidade da manutenção da Escravatura.

Irina Bokova referiu ainda que através do projeto da Rota dos Escravos e da História Geral de África, a UNESCO procura revelar a realidade da Escravatura e do comércio de escravos, no sentido de ajudar todas as pessoas a aprender com este capítulo da História, sendo o Dia Internacional para a Memória do Comércio dos Escravos e a Abolição da Escravatura um tributo prestado à memória de cada vítima e da sua resistência contra a Escravatura, bem como um apelo à verdade, à justiça e ao diálogo entre povos.

Para mais, segundo Irina Bokova, defrontada com os perigos permanentes do racismo e da intolerância, a UNESCO empreende esforços para assegurar que a memória e a história sejam forças para o diálogo, a tolerância e a compreensão mútua: ao promover a diversidade inerente nas nações, através da experiência da Escravatura e do comércio de escravos, podemos compreender melhor a diversidade do mundo e encontrar o caminho para a paz, concluiu a Sra. Diretora-Geral.

Portugal aboliu formalmente a Escravatura em 12.02.1761, na metrópole e na Índia. Mas só por Decreto de 1854 se libertaram os escravos do Estado, e os da Igreja em 1856. Pela Lei de 25.02. 1869 se proclamou a Abolição da Escravatura em todo o Império português, até ao termo definitivo de 1878. O decreto do Rei D. Luis foi publicado no Diário do Governo de 27.02.1869 (oficinadahistoriad.blogspot.com).

Segundo Wikipédia, citada em fonte na internet,  o comércio de escravos que se estabeleceu no Atlântico entre 1450 e 1900 contabilizou cerca de 11.313.000 pessoas.


Autor: Paulo Marrecas Ferreira