Simp

Está aqui

Ataques de Paris são “crime contra a humanidade” e “contra a cultura”, segundo perita da ONU

19 nov 2015

A Relatora Especial das Nações Unidas na área dos direitos culturais, Karima Bennoune, condenou na passada segunda-feira, o mais categoricamente possível, os ataques terroristas de 13 de Novembro em Paris. “Estes ataques podem constituir um crime contra a Humanidade e certamente um crime que atingiu de forma perversa e deliberada centros de artes e lazer onde as pessoas se juntam para gozar os seus direitos culturais”, disse.

“A linguagem utilizada na alegada reivindicação dos ataques de 13 de Novembro pelo chamado Estado Islâmico, que apelidou os fans de rock presentes no Bataclan de pagãos e chamou à cidade de Paris a capital da prostituição e do vício, demonstra a odiosa visão do mundo que motiva esta violência”, declarou Karima Bennoune.

Para a perita de direitos humanos, os gritos de ‘Allahu Akbar’ (Alá é Grande) no início do massacre no Bataclan, tal como foi noticiado, “constituem manifestamente um abuso grosseiro de uma invocação religiosa sagrada para centenas de milhões de crentes muçulmanos em todo o mundo que abominam tal banho de sangue e aumentam a probabilidade de manifestações de ódio e discriminação contra os mesmos, em resposta”, disse.

Karima Bennoune manifestou a sua “total compaixão” pelas vítimas e suas famílias, reiterando as palavras do Imã da Grande Mesquita de Paris, Dalil Boubakeur e sublinhando o seu apelo à unidade nacional face a este terrível problema. “A unidade internacional será igualmente fundamental para responder a tais ameaças à cultura e aos que se reúnem para a fazer acontecer e para a partilhar”, afirmou a perita.

“Expresso aqui a minha solidariedade e as minhas condolências para com o povo de Paris e espero que regresse em breve a uma atmosfera de segurança, bem como a um ambiente que lhe permita gozar em pleno os seus direitos e liberdades”, disse. A perita apelou também à comunidade internacional para que tome com urgência todas as medidas necessárias para ajudar as autoridades francesas a assegurar que todos os terroristas ainda a monte sejam levados a responder perante a justiça, em conformidade com o direito internacional.

“Todos temos de cooperar para proteger as pessoas que, em todo o mundo, enfrentam ataques semelhantes de tais gangues da morte simplesmente por participarem em actividades culturais”, observou.

Karima Bennoune apelou à sociedade civil de todo o mundo “para que se una para denunciar e combater a ideologia fundamentalista que motiva tais atrocidades, como muitos têm feito nos países de maioria muçulmana desde há anos, e para que apoie os que resistem a tais ataques fundamentalistas à vida cultural na linha da frente, da África ocidental à Ásia meridional e em outros locais.”

A Relatora Especial manifestou também a sua profunda preocupação pessoal com outros ataques terroristas recentes, como os ocorridos a 12 de Novembro em Beirute ou a queda do avião russo no Egipto o mês passado, que suscitam graves problemas de direitos humanos em larga medida fora do âmbito do seu mandato.

“Gostaria de destacar a igualdade global das vítimas e a inevitável natureza internacional da luta contra aqueles que tentam deliberadamente matar civis e a própria cultura e, acima de tudo, dividir a família humana”, concluiu.

Karima Bennoune foi nomeada Relatora Especial das Nações Unidas na área dos direitos culturais em Outubro de 2015. Cresceu na Argélia e nos EUA. É professora universitária de Direito e Investigadora do Centro de Pesquisa Martin Luther King, Jr. da Universidade da Califórnia – Davis School of Law, onde ensina direitos humanos e direito internacional. Trabalha há mais de 20 anos na área dos direitos humanos. 


Autor: Raquel Tavares

Fonte: www.ohchr.org